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segunda-feira, 28 de março de 2011

CONSUMISMO X CONSUMERISMO:

Uma reflexão sobre sobrevivência

Por: Paulo Rink



Em sua gênese sobre o capitalismo Werner Sombart, sociólogo alemão, relaciona a essência do capitalismo, sistema baseado na produção e demanda, aos desejos e necessidades das pessoas. Desejos e necessidades estão no cerne do conceito de marketing, filosofia gerencial incluída nas organizações, pelos americanos, depois da 2º guerra mundial, com o intuito de estimular a produção e, por conseqüente, o consumo.

Quando consumimos suprimos certas necessidades e buscamos no ato de comprar, nem sempre é verdade, aquilo que algumas correntes da psicologia denominam de “transferência de felicidade, ou sonho”. O ato de comprar gera, nem sempre de modo instantâneo, sentimentos antagônicos de satisfação ou de insatisfação. Assim, o ato de compra, sugere normalmente, um ato de consumo, o qual pode ser consumido imediatamente ou posteriormente ao ato de compra.

Sob esta variante o consumo pode ser visto como algo em duas dimensões: o sagrado e o profano.

“Tomamos o sagrado no reino do consumo para nos referirmos àquilo que é considerado mais significativo, poderoso e extraordinário do que o ego. O profano, em comparação, é comum e não tem a capacidade de induzir experiências extasiantes (sic!), de autotranscedência e extraordinárias.” A citação dos pesquisadores pós-modernos, (Bell, Wallendorf e Sherry), conduzem o consumo, não somente a condição de mola propulsora do sistema capitalista, ele atinge status muito além do reino das necessidades cotidianas. A dimensão, sagrado, reflete a transcendência da existência mundana humana, o profano torna-se simples e comum, como uma fotografia.

Atualmente, consumimos cerca de 25% a mais da capacidade do planeta. Cientistas calculam, que no ritmo atual, em 25 anos precisaremos de dois planetas terra, para suprir nossas demandas. Nesse contexto, as trombetas do apocalipse destrutivo das reservas naturais começaram a tocar e, seus sons alcançaram os mais distantes pontos do planeta.

Se consumirmos para atender aos nossos desejos e necessidades e, assim fazermos a roda da economia girar, gerando riquezas e, também destruição, ao final do processo, necessariamente, se desenvolve outro fator que vem tirando o sono de pesquisadores e ambientalistas: os “descartes”. Embora a alcunha sugira o nome de um filósofo francês, o processo não tem nada de belo ou filosófico. Se ao consumirmos geramos dois atos antagônicos: riqueza e extermínio das reservas naturais; ao descartarmos geramos degradação ao meio ambiente e doenças à raça humana.

O consenso, pelo menos entre os cientistas, ambientalistas e alguns governos, era que se precisava inverter a tendência e, medidas para um consumo consciente começaram a se proliferar. Nascia assim o consumerismo.

Embora se tenha como algo novo o consumerismo não o é. As suas raízes demandam de tempos remotos e encontramos na Bíblia, mais precisamente no livro dos Provérbios, a citação “A sanguessuga tem duas filhas: dá-me, dá-me. As três coisas seguintes são insaciáveis, antes quatro, que nunca dizem basta.” (Prov. 30: 15). Reformadores como São Tomás de Aquino, Martim Lutero e João Calvino, já representavam um tipo de consumeristas, devido as suas criticas contra as vendas enganosas e atos exacerbados de consumo.

O consumerismo moderno pode ser atribuído a John F. Kennedy, quando enviou ao Congresso Americano em março de 1962, a mensagem da carta dos direitos do consumidor que propunha;

1º O direito à segurança – proteção contra produtos ou serviços que sejam perigosos para à saúde e para a vida;

2º O direito de ser informado – fornecimento de fatos necessários para uma escolha fundamentada, proteção contra apelos fraudulentos, enganosos ou ilusórios;

3º O direito de escolha – o acesso a uma variedade de produtos e serviços a preços competitivos assegurado;

4º – O direito a ser ouvido (reparação) segurança que os interesses do consumidor recebam consideração total e simpática na formulação e implementação de política regulamentadora; restituição pronta e justa;

5º O direito de usufruir um ambiente limpo e saudável;

6º O direito dos pobres e de outras minorias de terem seus interesses protegidos.

A carta de Kennedy é considerada a porta de entrada para o moderno consumerismo, ela designa, apenas, os direitos dos consumidores e, os deveres das empresas com seus clientes. Visto sob este prisma, a Carta designa à parte “romântica” da relação.

Passados quase 50 anos, o movimento consumerista ganhou novos contornos e hoje o movimento não indica apenas direitos e deveres de empresas e consumidores, embora grupos radicais preguem a extinção do consumo, o movimento incita o consumo equilibrado, consciente e responsável. O poupar hoje para ter amanhã.

Embora possa parecer distante, o consumerismo, já se faz presente no nosso cotidiano, seja no trabalho ou em nosso lar. Ações na área governamental preconizam o uso racional da água e das matrizes energéticas, enquanto nas organizações se preconiza o uso racional de copos descartáveis, impressões e utilizações de materiais, principalmente, de escritórios de forma consciente.

No âmago da questão, entre o consumismo e o consumerismo, está o conceito de futuro, de sobrevivência do planeta e da vida. Em sua obra “Audácia: uma alternativa para o século XXI”, Alain Lipietz, economista francês, chama a atenção para o fato da produção sem limites o Estado Liberal produtivista, e o consumo exacerbado e propõe alternativas para as futuras gerações. “Como chamar essa direção indicada pela direção da bússola do materialismo crítico? Como chamar essa abolição da ordem existente”?

A recente crise econômica mundial expôs de forma dramática os desafios a qual a atual e as futuras gerações terão que, necessariamente, enfrentar. Se de um lado o movimento consumerismo propõe uma parcimônia dos recursos, o fim do “comprar por comprar” por outro a restrição, ou ausência, de consumo propiciar-se-á o colapso de sistema econômico vigente. Temos a tendência de imaginar o futuro como algo “distante”, mas é bom apressarmos, pois como diz o poeta em “Aquarela”, obra monumental, de Vinicius e Toquinho, “e ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está”.

Ótimo texto, contexto reflexivo, então a palavra de ordem agora é consumerismo em doses homeopáticas.
Equilíbrio.

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